ARTE E POLÍTICA NA AMÉRICA LATINA

A América Latina são muitas. Composta por diversos países, com as mais diferentes culturas, que têm em comum um passado colonial. Configurada por descendentes dos diversos povos originários, das pessoas escravizadas, dos invasores europeus e das migrações do século XX, é um território híbrido que trás as contradições e mazelas de seu processo histórico em sua própria denominação: “América Latina”. Por que adotamos o nome que homenageia um conquistador europeu para este território? Aceitar essa denominação não seria também incorporar a dinâmica colonizadora e negar as populações que estavam aqui antes das invasões? Deveríamos rejeitar os vocábulos “América” e “Latina”, uma vez que ambos derivam da lógica colonizadora europeia? Ao mesmo tempo, o termo foi incorporado pelas lutas políticas que também denotam resistência, poder e luta. É nessa dimensão que nos apoiamos.

Aqui, o fim do colonialismo não significou o fim da colonialidade. O colonialismo é a dominação dos territórios e a colonialidade a colonização do imaginário e do saber. Trata-se, portanto, de uma estrutura que permanece através do tempo e impacta na maneira como nos enxergamos e reproduzimos práticas de dominação.

A crueldade da nossa história não se manifesta somente nos violentos processos que exterminaram em massa povos indígenas e escravizaram africanos, mas se enraíza no campo da cultura na medida em que naturaliza as narrativas hegemônicas que não levam em conta a cultura de diversos povos que ainda sobrevivem nesse território, reforçando o racismo estrutural presente em nossa sociedade. Além de criar uma dinâmica de exclusão e invisibilização dessas vozes, as mantêm nas margens do discurso oficial, impedindo, assim, a criação de um campo crítico que impacte na realidade política.

No campo da cultura, a arte sempre exerceu um papel importante no imaginário social e político, ao estar do lado das estruturas de poder, como o Estado e a igreja, mas também junto aos processos de afirmação cultural, tradição e movimentos de resistência. A arte e a cultura ocupam um lugar importante no cotidiano, nesse sentido tanto as práticas estéticas ritualísticas das culturas tradicionais quanto as práticas artísticas contemporâneas institucionais afirmam o campo da arte como um campo de disputa simbólico associado às práticas políticas.

Nestas aulas pretendemos criar um espaço para a discussão do papel da arte na América Latina, levando em conta o caráter híbrido, multicultural e político destas produções. Para isso pretendemos abarcar a natureza múltipla das maneiras de se fazer, ver e pensar a arte e a cultura em nosso território, através de diferentes olhares e suas relações com as dinâmicas de resistência e poder. Por isso, apresentamos uma série de textos, que são transcrições das aulas em vídeo, que irão abordar a identidade latinoamericana, as influências indígenas, africanas e europeias na nossa cultura, e na nossa arte, para também apontar caminhos para uma prática contra-colonial no campo da arte e da cultura e, em consequência, na política. Para compor essa proposta convidamos artistas, pesquisadores, filósofos, cientistas políticos e historiadores para nos ajudar a montar uma parte do quebra-cabeça, no qual veremos uma imagem de América Latina desde a perspectiva da cultura e, finalmente, através de um debate crítico, discutir nossos desafios e sonhos para o futuro.

Ficha técnica:

Coordenação: Brígida Campbell e Bruno Vilela
Professores: Heloisa Starling, Maria Angélica Melendi, Julio Cabrera, Gersem Baniwa, Paulo Nazareth, Juan Angola Maconde, Grabriela Pellegrino, Brígida Campbell
Vídeos e edição: Bruno Vilela
Traduções e Legendas: Renan Camilo
Projeto Gráfico: Brígida Campbell
Gestão Administrativa: Sinergia gestão de projetos culturais