UTOPISMO ESPAÇO-TEMPORAL

Coletivo Rachadura

O coletivo Rachadura propõe aos moradores do Bairro Renascença a diminuição do muro das suas casas. Documentam em vídeo as tentativas de convencimento. Nessas conversas as pesso- as lembram de um passado recente de apropriação das ruas pelos moradores, das relações de vizinhança e das dificuldades contemporâneas relativas à necessidade de segurança. Conversas informais aderidas a um discurso hegemônico da violência instituída. Palavras particulares os- cilando como palavras de ordem aprendidas dos meios de comunicação, dos programas televi- sivos, dos jornais impressos ou da internet. Palavras de ordem sobre o cotidiano, compondo o vocabulário das conversas informais, formando a opinião pública, cujas respostas já dadas pro- pagam a segurança a qualquer custo que as pessoas possam pagar. No impedimento de qualquer outra resposta, são reproduzidas imagens para alimentar a cultura do pânico. E o muro acaba por assumir, mais do que a imagem da separação de uma esfera privada de uma pública, a imagem de barreira indispensável à garantia da privacidade e das posses particulares.

O trabalho Utopismo espaço-temporal joga com a palavra de ordem dominante (relacionada à segurança) na imagem da diminuição dos muros. Aderindo ao jogo, por fim, um dos moradores permitiu a empreitada artística e aceitou reduzir o muro de sua casa.