ROTA RAIZ

PEDRO DAVID

Nas poucas vezes em que compareci à “boca da máquina” para acompanhar as impressões dos livros e catálogos que tive oportunidade de produzir, sempre encantei-me com acasos gerados pela distribuição lógica, mas incompreensível, dos cadernos de um livro abertos nas folhas de papel de 66×96 cm.
Quando são impressas as primeiras provas, à incrível velocidade de 10.000 folhas por hora, a edição, antes minuciosa, parece ter sido ignorada. Pelo menos durante o extenso tempo a que somos submetidos até que as folhas sejam dobradas e cortadas e o livro montado e acabado.

A reutilização das folhas usadas para acertar as cores e o registro da impressão geram imagens impensadas, aleatórias. As sobreposições de elementos que foram pensados para coexistir, na mais próxima das possibilidades, lado a lado, geram tensões físicas, estéticas e conceituais. Mas são descartadas ao final de cada serviço que sai pronto e encadernado das gráficas.

Ao imprimir Rota Raiz, mais uma vez recolhi restos destes acasos criados durante os testes de impressão de cada caderno, não apenas pela ansiedade de ter nas mãos algum registro palpável do livro que ainda não chegou. Mas, desta vez, com a certeza de que os levaria a público de alguma forma.

Esta simples exposição é uma amostra destes bastidores da impressão de um livro, e de fugas que as imagens podem empreender quando são postas à prova.

Pedro David