MURO NUVEM

Guilherme Cunha

O trabalho Nuvem (da série Deslocamentos) promove o “apagamento” circunstancial de um muro através de um sistema inventivo para produção e dispersão de fumaça a partir de gelo seco. A nu- vem que vai se formando ocupa a área do muro como um deslocamento de matérias, sobrepondo a matéria volátil e movente da fumaça ao peso bastante concreto da matéria do muro. Em alguns momentos ocorre uma matéria híbrida na mistura entre eles. Essa experiência científico-poética atenta para outros modos de percepção da realidade entre os tijolos e a fumaça que os invade. Com a ressignificação do muro em nuvem, a matéria objetiva fica sem forma definida enquanto se abre para as pessoas remontarem formas reconhecíveis metamorfoseadas na sua dispersão.

Vislumbre imaginário de animais, objetos, rostos e inclusive de um muro de nuvens. Mas um muro que a perspectiva não captura no controle de seus pontos de fuga. Uma “desmaterialização” da ordenação arquitetural. Um chamado simples ao imaginário para a ressignificação a partir da experiência insurgente; chamado desde o sinal de fumaça avistado ao longe na cidade.