DIÁLOGOS

Douglas Pego

“Quando o homem se defronta com um espaço que não ajudou a criar, cuja história desconhece, cuja memória lhe é estranha, esse lugar é a sede de uma vigorosa alienação.”1 Douglas Pego ocupa o muro com placas para anúncios publicitários, habitualmente utilizadas no comércio po- pular. A placa-anúncio em cores fortes e chamativas detém o espaço preto sobre o qual a infor- mação será compartilhada. A oferta, no entanto, não aparece no muro construído por Douglas. Tudo parece dar lugar a uma nova fabulação, uma poderosa imagem, um muro colorido e vazado momentaneamente se instaura. Num primeiro momento pensava-se numa efetiva apropriação dos transeuntes que seriam convidados a deixar suas inscrições dos lugares destinados à in- trodução de mensagens e ofertas. A instalação, para além de configurar uma paisagem sensí- vel e aberta à especulação e à participação de todos, vai aos poucos se desfazendo pelas reais necessidades do urbano. O trabalho adquire uma outra camada, acrescida pelos transeuntes habituais da região, operando numa certa medida para cumprir com o fim mesmo de cada placa ali instalada. As placas retiradas pelas pessoas corroboram para o desaparecimento da imagem inicial e a proposição de um muro completamente coberto de placas-anúncio tende aos poucos a desaparecer. A inscrição primeiramente pretendida pelo artista (e que envolvia a participação geral) certamente irá ocorrer dentro de sua própria materialidade. Devolvida pelas mãos dos passantes à sua função primeira – tornar-se placa-anúncio de comércio popular – desvincula-se da proposição artística e reassumi seu lugar no tecido social. Na proposição de Pego, e por con- seqüência nos desdobramentos que se seguem, vemos revelar um mundo a parte, da publicidade popular e menos formal do espaço urbano no qual vivemos.