CONCERTO PARA O ERRO

RENATO NEGRÃO

Renato Negrão condensa em sua proposta toda a ambigüidade do território urbano. Concerto para o erro é uma performance, ação, poesia que intervém na fronteira criada por um muro. No caso, o muro em questão é de fundamental importância: Negrão escolhe o muro/parede de um shopping recentemente erguido na cidade de Belo Horizonte. O muro estabelece a fronteira física entre o centro comercial e a comunidade do entorno denominada Vila Ponta Porã. A Vila está localizada a cerca de dois quilômetros do centro da cidade, entre duas das principais vias de circulação. Tem como limites de um lado o shopping e do outro o Instituto Raul Soares, um hospital psiquiátrico inaugurado em 1922, e que ainda hoje é unidade de referência para a saúde mental na cidade. Concerto para o erro sinaliza o território específico da comunidade e propõe a apropriação do muro/parede como espaço que pode discorrer acerca do contexto específico daquela comunidade e da invisibilidade que lhe é imposta pelas fronteiras físicas e simbólicas presentes no lugar. A parede/muro impede o acesso direto ao shopping. Não existe, naquele lado da construção, porta de acesso ao centro commercial, e o morador da comunidade que quiser entrar tem que dar a volta. O muro, nesse caso, demarca claramente a impossibilidade da vida comum. Convivência ali não toma lugar. Usar a parede/muro como espaço que pode ser ativado pela e para a comunidade demarca o seu território e combate a exclusão. Por meio da poesia e do uso de tecnologia low tech – um retro projetor, garrafa, água, tinta, caneta, barbante, etc – Negrão cria narrativas sonoras e visuas cuja efemeridade e não-impregnação sugerem a apropriação do muro como espaço cultural que pode exceder os limites impostos pela exclusão e criar ações coletivas de um possível ativismo social.