ASCENÇÃO SOCIAL

Sara Lambranho

Numa rua de bairro residencial de Belo Horizonte, onde ainda existem apenas casas de até dois pavimentos, a artista negocia a ampliação do muro com os proprietários de uma casa de fun- dos. O muro passa de dois para cinco metros de altura. Na estreita faixa de entrada dessa casa, ergue-se uma antiescultura monumental, se comparada à escala dos muros das proximidades. O trabalho Ascensão Social questiona de maneira ambígua e irônica a reprodução dos espaços das cidades ditados pela cultura do isolamento. Cidade esvaziada desde fora, formada por corredores murados como interstícios lisos para a circulação entre espaços isolados, conferindo mesmo aos bairros residenciais a medida do isolamento de seus moradores. Na assertiva da ascensão social concentra-se o atual movimento de crescimento econômico brasileiro, do qual a amplificação da capacidade de consumo da população é reflexo. Mas consumo associado a uma despoliti- zação propagada pelos aparatos telemáticos, que visam manter essa amplificação. O aumento do poder de consumo em nossa realidade social evidencia o programa de isolamento a que nos submetemos, tanto pela necessidade de proteção (que é a manifestação da desigualdade ainda dominante), quanto pelo individualismo reinante sobre a coletividade. Assim, o muro, monumento às avessas, no trabalho Ascensão Social figura como uma crítica da repercussão espacial do iso- lamento como aparência de crescimento econômico, que pode ser alastrada à imagem artística em sua potência reativa diante dessa realidade.